Fã dos Titãs e
dos Engenheiros do Hawaii, um juiz gaúcho decidiu montar uma banda tendo como
parceiros jovens que ele mesmo condenou por crimes como tráfico, roubo e até
homicídio.A banda, chamada
Liberdade, se apresenta no pátio do Case (Centro de Atendimento Socioeducativo)
de Passo Fundo, onde os adolescentes estão internados, e em outros locais, sob
escolta. A formação não é fixa, porque os músicos são liberados após cumprir a
medida socioeducativa.
Roqueiro, o juiz
Dalmir Franklin de Oliveira Júnior, que há oito anos atua na Vara da Infância e
da Juventude, diz que por vezes também cede aos pedidos dos internos e arrisca
no sertanejo, o ritmo preferido dos meninos. O juiz afirma que
nunca enfrentou problemas com os garotos na banda, mesmo os que, em um primeiro
momento, se sentiram injustiçados com a pena imputada. Isso porque, para
conseguir uma vaga na percussão ou na guitarra, é preciso ter bom
comportamento. Dos 70 a 80 internos do Case, cerca de 25 participam das aulas
de música do projeto e conseguem um lugar na banda.
"Tem um
respeito recíproco grande", conta o juiz, para quem a banda ensina
responsabilidade, já que nela "cada um tem sua função".
Dalmir, 39,
começou a tocar teclado num grupo quando tinha 16 anos. No repertório, músicas
do Legião Urbana e, claro, dos Engenheiros. "A música tem ampla aceitação
social e dá outra etiqueta a esses jovens, permite que eles sejam vistos por
outro viés que não o da delinquência", afirma.
Marcelo Pimentel,
50, professor de percussão do projeto, concorda. "O único ser que se reúne
para tocar um instrumento é o humano. Por isso, ali eles se sentem mais
humanos", diz. O programa começou há seis anos.
Segundo o
professor, o ritmo da percussão ajuda a "canalizar as energias".
"Nas férias escolares deles, me chamaram porque os meninos estavam muito
agitados, sem atividade", diz ele, que atua como voluntário.
As turmas, de
aulas teóricas e práticas sobre ritmo e harmonia, foram montadas com a
colaboração da comunidade e o apoio da Pastoral Carcerária. Os instrumentos
foram doados pelo magistrado, já que o projeto não conta com verba pública.
"As pessoas
não sabem o que é ser adolescente e estar preso em uma sexta-feira [quando
todos se divertem]", diz o professor. "Eles têm que pagar pelos
erros, mas não precisa ser um inferno."