No momento, um mal que está corroendo o
prestígio das faculdades de Direito americanas é a quantidade de
bacharéis que, em um período de nove meses após a formatura, não
conseguem empregos. A causa do problema já foi diagnosticada há tempos:
as escolas preparam mais “candidatos a emprego” do que o mercado de
trabalho pode absorver. Um remédio indicado para curar o mal que aflige
os bacharéis e as faculdades é formar advogados empreendedores, em vez
de “candidatos a desemprego”.
Muitas faculdades estão se empenhando
seriamente para virar esse jogo. No lugar de algumas “clínicas” rápidas,
que algumas faculdades ofereciam até agora, muitas delas decidiram
oferecer disciplinas emprestadas do currículo das escolas de negócios ou
de Administração. Em algumas escolas, os estudantes de Direito já podem
fazer cursos de Finanças, Contabilidade, Administração, liderança e
empreendedorismo.
Cursos de marketing e vendas também podem
ser uma opção: nenhum profissional pode se sair bem se não souber
promover ou “vender” seu trabalho, sua marca, seu nome ou sua firma.
Competência profissional não é, definitivamente, o único requisito
básico para o sucesso.
No entanto, a função maior dos cursos de negócios, entremeados nos cursos de Direito,
é produzir bacharéis com mentalidade empresarial. “Nós vemos o
empreendedorismo como uma forma de mentalidade, disse ao The National
Law Journal o professor Brad Berntal, da Faculdade de Direito da
Universidade do Colorado, uma das primeiras nos EUA a enfrentar o
problema. “Para iniciar uma empresa, não é um fator indispensável ser um
empresário. Mas uma mentalidade empreendedora é fundamental”, ele
afirma.
A ideia essencial é que os bacharéis
deixem a faculdade com o mesmo espírito dos estudantes de negócios ou de
Administração. Eles querem abrir seus próprios negócios e não se
tornarem candidatos a emprego no mercado e se dedicar a disputar, a
duras penas, as poucas vagas em oferta. Um emprego em uma banca
bem-sucedida às vezes ajuda, mas só para ver como ela toca os seus
negócios e aprender mais.
A formação de uma mentalidade
empreendedora — que, por sinal, é um atributo que se desenvolve, não um
dom de nascença — também pode ajudar muito os profissionais que
pretendem se dedicar à advocacia empresarial.
A explicação é simples, disse ao jornal o
diretor do Programa Zell de Empreendedorismo e Advocacia (ZEAL) da
Faculdade de Direito da Universidade de Michigan. “Tradicionalmente, os
advogados veem riscos como algo a ser eliminado ou minimizado. Essa
abordagem não funciona no mundo dos negócios, principalmente entre os
novos empreendimentos, onde a grande recompensa requer coragem de
assumir riscos”. Assim, um dos objetivos maiores é ensinar os estudantes
de Direito a pensar sobre os riscos da mesma forma que os empresários o
fazem.
Todos os cursos de negócios nos EUA
ensinam que um dos requisitos básicos para se abrir uma empresa é
contratar, imediatamente, um contador e um advogado. Mas há um temor
generalizado de se discutir novos negócios com advogados. Já se sabe,
desde logo, que eles vão apontar, basicamente, problemas. Pode ser
desestimulante. Por isso, os advogados precisam encontrar um ponto de
equilíbrio e mesmo aprender a discutir negócios com os empresários.
“Os advogados precisam deixar de ser máquinas mortíferas de ataques a negócios”, diz o diretor.
Para ajudar nesse quesito, as faculdades
estão colocando os estudantes de Direito para trabalhar com estudantes
da escola de negócios ou de Administração, bem como com novos
empreendedores de suas respectivas cidades, que querem abrir uma
empresa. A ideia é transmitir uma visão jurídico-empresarial aos
estudantes de negócios e empreendedores sobre os pontos de contato da
lei com o empreendimento, como constituição da empresa, registro de
marcas comerciais, contratos etc.
Os estudantes de Direito podem, em
contrapartida, aprender como eles pensam, como falam, como se comportam,
como veem o empreendimento e como fazem as coisas. Podem ainda conhecer
suas expectativas e aprender como abordar possíveis problemas jurídicos
de uma forma mais estimulante. E a estabelecer prioridades para
questões jurídicas. Os estudantes formam relacionamentos e futuros
clientes.
Por isso, esse aprendizado é extremamente
útil para advogados que se preparam para abrir sua própria firma ou
para fazer carreira solo. Mas também ajuda muito os futuros
profissionais que pretendem buscar emprego em assessorias jurídicas de
empresas ou de qualquer associação não governamental: eles estarão mais
preparados para discutir com os empresários os negócios da empresa. Ou
com os dirigentes de entidades, os seus empreendimentos.
“A reclamação clássica dos bacharéis em
Direito sempre foi não entender nada de negócios. Mas isso está
mudando”, disse o diretor da ZEAL. A Faculdade de Direito de Michigan
oferece, agora, 28 cursos de negócios, muitos dos quais envolvem
simulações e treinamento prático de negociações. Um curso, para o qual a
faculdade pretendia atrair 25 estudantes, recebeu 167 inscrições.
A prestigiosa Faculdade de Direito de
Harvard começou a oferecer capital inicial para bacharéis que lançarem
empreendimentos destinados a melhorar a sociedade.
Uma situação inesperada é que alguns
estudantes se desgarram do curso de Direito para se enveredar nos
negócios ou no sistema financeiro. Em Michigan, um estudante de Direito e
um estudante de negócios se juntaram para lançar um bem-sucedido
portal, do tipo mídia social, focado em casamentos. No Colorado, um
estudante criou uma plataforma de blog para viajantes, que terminou
comprado pela AOL.
Fonte: Conjur