As motivações são diferentes, mas muitos casos apresentam um histórico de abuso doméstico
Criminalistas
britânicos categorizaram em quatro tipos distintos homens que mataram
membros de suas famílias. A avaliação foi feita com base em um estudo de
registros de jornais que relatam histórias de pessoas que mataram
membros da família entre 1980 e 2012.
O estudo mostrou que divórcios são a maior causa,
seguido por dificuldades financeiras e crimes de honra - cometidos por
um ou mais membros de uma família contra uma mulher do mesmo núcleo
familiar que tenha tido uma conduta considerada imoral ou nociva à honra
da família.
Os quatro tipos, divulgados na publicação Howard Journal of Criminal Justice,
são: homens hipócritas, anômicos, frustrados e paranoicos. Cada tipo
apresenta motivações diferentes, e muitos casos apresentam um histórico
de abuso doméstico.
Os quatro tipos
Hipócrita: o
assassino procura colocar a culpa pelo crime na esposa, que ele
considera responsável pela separação da família. Para esses homens, o
status de provedor é muito importante para seu conceito de família
ideal.
Anômico: O pai vê sua família como a consequência
de seu sucesso econômico, e é através dela que ele mostra suas
realizações. No entanto, se o pai se torna um fracasso econômico, a
família não serve mais essa função.
Frustrado: Esse assassino acredita que sua
família o desapontou, ou agiu de uma maneira que prejudicou ou destruiu
sua imagem de vida familiar ideal. Um exemplo pode ser a decepção que
eles sentem quando as crianças não estão seguindo os costumes religiosos
ou culturais tradicionais do pai.
Paranoico: É aquele que percebe uma ameaça
externa à família. Ele teme que os serviços sociais ou o sistema legal
vão ficar contra ele e retirar a guarda de seus filhos. Aqui, o crime é
motivado por um desejo distorcido de proteger a família.
"Conceito estereotipado"
Os casos
de homens que mataram membros da própria família se tornaram mais
comuns, com mais da metade acontecendo desde o ano 2000. Apenas seis
casos foram encontrados nos anos 1980.
Segundo David Wilson, da Universidade Birmingham City,
na Grã-Betanha, e um dos autores do estudo, a razão para esse aumento
poderia ser "o sentimento que homens têm em exercer poder e controle"
sobre suas famílias.
"Normalmente são os homens que investiram mais em um
conceito estereotipado do que significa ser um marido e um pai dentro
dessa instituição chamada família", explica Wilson à BBC. "A imagem que
eles têm de família é muito simplificada, e não reflete o crescimento do
papel dinâmico que a mulher pode exercer na economia e na instituição
familiar."
Wilson disse também que o que mais o surpreendeu foram
"as ideias extraordinárias que os homens têm quando eles pensam em matar
seus filhos. Eles pulam de pontes com seus filhos no colo, e entram com
o carro em rios com seus filhos no banco de trás. Essas são maneiras
dramáticas e controladoras de cometer um crime."
"Esse é um grupo de homens desconhecido para o sistema
de justiça criminal. É um perfil muito diferente dos assassinos
normalmente encontrados em investigações criminais", concluiu Wilson.
Vidas Privadas
O novo estudo mostra
explicações muito diferentes para os motivos que levam alguém a matar
membros da própria família. O estudo apontou vingança ou altruísmo como
causas. Mas o grupo responsável pelo estudo disse que essas explicações
não estão presentes em muitos casos que eles revisaram.
Wilson explicou que problemas na vida privada de muitas
famílias podem ser uma razão para os homens tentarem parecer pais
amorosos e maridos obedientes. Ele acrescentou que, por essa razão, é
importante levar a violência doméstica a sério, e incentivar "mais
pessoas a ter conhecimento sobre a vida dos outros".
Keith Hayward, que é professor de criminologia da
Universidade de Kent, na Inglaterra, não estava envolvido no novo
estudo. Ele disse que é um importante trabalho, mas que construir
"tipologias" baseadas em reportagens de jornais é algo problemático.
"Há uma série de suposições infundadas sobre as
"motivações". Isso se reflete nas quatro categorias, que se sobrepõem e,
portanto, não parecem tão rigorosas para mim."
Hayward reconhece que, em muitos casos, ter acesso aos
assassinos é impossível, mas sem uma visão detalhada sobre suas
histórias de vida, "tudo vira dedução", disse ele.
Os pesquisadores deixaram claro que havia desvantagens
em usar reportagens de jornais, mas argumentaram que entrevistas com os
membros da família "mostraram a realidade da vida por trás de portas
fechadas", e ajudaram a determinar os possíveis motivos.
O estudo encontrou 71 casos de familiares assassinadas
por membros da própria família. Dentro desses casos, foram encontrados
12 que tiveram mulheres como as responsáveis, mas esse número será
analisado em pesquisas futuras.
Fonte: Terra