A
revelação de que Mubarak, 85 anos – 30 dos quais no comando do país –,
pode deixar a prisão "em 48 horas" foi feita à agência Reuters pelo
advogado de defesa Fareed el-Deeb. O ex-ditador foi condenado no ano
passado a prisão perpétua por cumplicidade na morte de manifestantes
entre janeiro e fevereiro de 2011. Em janeiro, a Justiça ordenou um novo
julgamento.
Detido
na prisão de Tora, periferia sul do Cairo, Mubarak poderia ser
libertado porque já espera por julgamento há mais de dois anos – prazo
máximo estabelecido pela legislação local. O ex-ditador só não foi solto
até aqui porque respondia a um processo por corrupção, cuja acusação
caiu ontem. "O que ficou é apenas um procedimento administrativo que não
poderia tomar mais de 48 horas para ser resolvido", afirmou Deeb. "Ele
deve ser solto até o fim da semana."
Aos olhos da opinião pública –
em especial de islamistas e de jovens liberais –, a libertação de
Mubarak reforçaria a impressão de que o atual governo interino, formado
após o golpe de 3 de julho e presidido por um civil, Adli Mansour, é na
realidade a reencarnação do antigo regime. Não é segredo, nem no Egito,
nem no exterior, que o homem forte do governo de facto é o ministro da
Defesa e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Abdel Fattah
al-Sisi. Hazem el-Sisi, um dos coordenadores da Associação Nacional pela
Mudança, organização liberal que lançou ao lado do movimento Tamarod
(Rebelde) a campanha pela deposição de Morsi, disse ao Estado não
acreditar na libertação neste momento por motivos políticos. Segundo
ele, o governo sabe que, caso solte o ditador, a opinião pública,
liderada pela juventude laica, vai se levantar. "Se Mubarak for
libertado, todos no Egito dirão que o general Sisi é representante do
antigo regime", adverte, prevendo benefícios também para a Irmandade
Muçulmana. "Seria uma razão para a Irmandade dizer que só ela é a
revolução."
Coincidência ou não, a Justiça egípcia prolongou
nessa segunda a prisão provisória de Mohamed Morsi por mais 15 dias por
crime de "cumplicidade de morte e tortura" durante sua administração. A
acusação diz respeito à morte de cinco oposicionistas em dezembro de
2012, quando uma multidão protestava no Cairo contra o decreto
presidencial que ampliava os poderes do chefe de Estado e contra o
rascunho da Constituição, que seria aprovado semanas depois por
referendo popular.
Violência. Enquanto a confusão reina nos planos
político e jurídico, a violência segue em alta no Egito. Nessa
segunda, 29 militares morreram em dois ataques na região de Sinai, na
fronteira com a Faixa de Gaza. Do total, 25 vítimas estavam em um
micro-ônibus que teria sido atacado com metralhadoras e lança-foguetes
por islamistas radicais, segundo o Ministério do Interior. Desde 3 de
julho, 73 militares morreram em ataques "terroristas" na região, a mais
instável do país.
Por outro lado, em Helwan, no Cairo, e cidades
vizinhas como Zagazig, houve protestos de militantes e simpatizantes da
Irmandade pela ação da polícia que deixou 37 prisioneiros mortos durante
o transporte de 600 detidos para a prisão de Abu Zaabal, na noite de
domingo.
Fonte: Estadão