“O que distingue as pessoas que chegam ao
topo é que elas aprendem melhor e mais velozmente que as outras”. Esta
frase foi dita a Fernando Jucá, sócio da Atingire – empresa de
treinamento e desenvolvimento – por um ex-presidente com passagens por
grandes empresas.
Na semana passada, Jucá reuniu profissionais de RH, em São Paulo, para discutir o processo de aprendizagem.
A inquietação dividida pelo especialista durante o evento estava
relacionada ao fato de que muitos treinamentos oferecidos pelas empresas
aos seus executivos acabam falhando no seu objetivo principal: mudar
comportamentos para atingir resultados melhores.
Certamente, muitos profissionais já
tiveram a sensação de tempo perdido ao serem convocados para
treinamentos na empresa. De acordo com Jucá, é comum ouvir dos
executivos frases como: não adianta realizar programas de treinamento,
nessa empresa as coisas nunca mudam”, ou “para que me inscrever em um
curso de técnicas de apresentação, se não tenho o dom de falar em
público”, ou ainda “o treinamento foi bom, mas quem deveria ter
participado era o meu chefe e não eu…”.
“O que todas essas frases revelam é a
ausência de uma competência fundamental atualmente: a expertise em
aprender”, diz Jucá. Esta expertise, diz ele, é fundamental, já que a
partir dela o processo de desenvolvimento de outras competências
torna-se efetivo. “Há até um campo de pesquisa na área educacional em
torno do termo heutagogia, que reflete sobre como é possível desenvolver
a nossa capacidade de aprender a aprender”, lembra o especialista.
Mas, o que fazer para desenvolver esta
capacidade? O que é preciso mudar para aprender mais rápido? Segundo o
especialista, algumas mudanças em relação ao que os profissionais
entendem como aprendizado são essenciais para turbinar a sua capacidade
de aprender. Confira:
1. Atividade só intelectual x conexão direta com comportamentos
“O aprender é percebido como uma
atividade puramente intelectual”, diz Jucá. Ou seja, você aprendeu o
nome da capital de Botswana ou quando ocorreu a Guerra do Paraguai e
guarda essas informações na cabeça. Se alguém perguntar, você responde e
pronto.
O primeiro passo é mudar esta concepção
de aprendizado, segundo Jucá. “Aprendizado implica a mudança de
comportamento. Se tal mudança não ocorreu, estamos falando apenas de
enciclopedismo gratuito, para gastar em almoços e festas”, explica.
2. Absorver x enriquecer ou modificar modelos mentais
Grande parte das pessoas imagina o
aprendizado como um processo de absorção, pura e simplesmente, lembra
Jucá. E se aprender é mudar comportamentos, a relação direta é com
modelos mentais.
Eles são o gatilho para a mudança de
comportamento, diz Jucá. “Modelos mentais são construídos e refinados
sem parar. As fontes para esse processo são quase infinitas, mesmo que
muitas vezes sutis”, explica o especialista.
Um comentário de um colega no corredor
sobre o chefe pode ajustar seu modelo mental sobre perspectivas de
carreira, por exemplo. “Os resultados frustrantes de uma reunião com a
equipe de vendas podem reforçar seu modelo mental sobre o trabalho em
equipe”, diz Jucá.
3. Conteúdo vem pronto de fora x o conteúdo é transformado por mim
O conteúdo vem pronto, resta absorver por
meio da atividade intelectual. Este é mais um exemplo de quão deslocado
pode estar o seu conceito de aprendizado. Jucá explica. “Há uma
interação constante entre novas experiências e meus modelos mentais, uma
coisa influencia a outra”, diz.
Imagine duas pessoas que participam da
mesma frustrante reunião de vendas citada no item 2. “O aprendizado
ainda assim poderia ser completamente distinto”, diz Jucá.
4. Fontes formais, como livros x experiências variadas, às vezes até a leitura
De onde vem o conhecimento? “Dos livros,
oras”, podem dizer alguns. “Da internet, mais especificamente do Google,
diriam outros”.
Grande parte das pessoas entende que o
conhecimento está nos cursos, livros, na internet, enfim são várias as
fontes, mas todas formais. Jucá faz um contraponto: “o aprendizado vem
de experiências variadas, às vezes até a leitura”, diz Jucá.
5. Momento específico x o tempo todo
Agora vou ler um livro, agora vou
estudar, enfim só agora vou aprender. Conforme explica Jucá, é frequente
dividirmos o tempo em dois momentos: hora de trabalhar, hora de
estudar.
“Pode perguntar para um executivo o que
ele fez no dia. Ele vai dizer que comandou, pensou, se comunicou,
escreveu…dezenas de verbos, sem a menção da palavra aprender”, diz Jucá.
É importante desfazer essa separação. Aprender não é algo que se faz em
um momento específico, você aprende o tempo todo.
6. Acúmulo gradual de saber x desaprender também é essencial
“Interessante também que a atividade de
aprender sempre é associada ao acúmulo gradual de conhecimentos”, diz
Jucá. É como um copo que vai sendo cheio de água, por exemplo. Você não
descarta nada, apenas inclui novas informações.
De acordo com Jucá, desaprender é o x da
questão e o grande desafio para os adultos interessados em turbinar a
capacidade de aprender. “A maior dificuldade dos adultos versus as
crianças em aprender é explicada não porque não conseguimos fazer novas
conexões neurais para enriquecer nossos modelos mentais e sim porque é
muito difícil enfraquecer conexões neurais antigas, modificando então
nossos modelos mentais atuais”, diz o especialista.
Assim, não deixe que o conhecimento
antigo cristalizado paralise a transformação de modelos mentais. Por
fim, fique com esta definição de aprendizado: “aprendo quando enriqueço
ou modifico meus modelos mentais, alterando meu comportamento”.
Fonte: Revista Exame