8 de abr. de 2013

PM do Rio é a mais corrupta do país, diz pesquisa

Fonte: Jornal O Globo
 
Considerada a mais corrupta do país, com 30,2% dos casos de extorsão, segundo pesquisa exclusiva revelada ontem pelo jornal Extra, a Polícia Militar do Rio enfrenta o problema com uma alta taxa de expulsão de servidores, o que, nos últimos anos, tem contribuído para o crescimento de uma nova face da criminalidade: as milícias. A análise foi feita ontem pela secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, ao comentar o resultado da Pesquisa Nacional de Vitimização do Instituto Data Folha, encomendada pelo Ministério da Justiça e pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento.
 
"O número de policiais expulsos me preocupa porque as milícias do Rio cresceram muito por causa dessas expulsões de PMs. Tenho medo de ser mal interpretada. Não acho que a gente deva ficar com o policial de qualquer jeito. Não é isso. Toda polícia que deu certo no mundo passou por reestruturação. A corporação do Rio tem que ser reestruturada", defende a secretária.

 
Segundo o levantamento, o Rio tem o maior número de vítimas desse tipo de crime do que todos os estados da Região Sudeste somados, inclusive São Paulo, que tem a maior população e a maior corporação militar do país. A pesquisa ouviu 78 mil pessoas em 26 estados. Depois do Rio, São Paulo desponta com 18,2% dos casos de entrevistados que relataram ter sofrido extorsão e pagado propina a policiais.
 
Cabral reage à crítica
 
A crítica feita pela titular da Senasp se refere aos milhares de servidores expulsos das fileiras das polícias Militar e Civil do estado. De 2008 até o ano passado, 1.411 PMs e policiais civis foram expulsos no Rio. Ela chama a atenção para a ausência de uma política de recuperação do policial antes de expulsá-lo e de um acompanhamento social após a expulsão, o que poderia evitar que ele se tornasse, por exemplo, um miliciano:
 
"O cara não sabe fazer nada na vida a não ser atuar na polícia. O estado investe muito alto na formação desse policial e depois o expulsa".
 
O governador Sérgio Cabral rebateu as críticas de Regina Miki:
 
"Jamais houve um governo que combatesse a má conduta dentro das polícias como o nosso, com a punição e expulsão de centenas de policiais. Entretanto, não conheço no Brasil polícia mais corajosa para entrar na luta contra o crime organizado como a nossa".
 
O deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, também criticou a política de expulsões: "Investe-se pouco na formação, na valorização e no controle. Quem investe pouco nisso acaba tendo que expulsar muito. O policial expulso não vai ser carteiro ou professor".
 
O titular da Corregedoria Geral Unificada, Giuseppe Vitagliano, afirma que a reforma ou a demissão de oficiais é mais lenta porque só pode ser feita por meio do Tribunal de Justiça. Às vezes, demora porque o número de processos é alarmante. "A corrupção é incompatível com o exercício da atividade. O policial deve ser honesto por princípio".
 
Dos entrevistados pela pesquisa, 61,3% acreditam que os policiais militares fazem vista grossa para a corrupção de seus colegas. O maior índice de desconfiança foi registrado em Roraima (74,7%). O Estado do Rio vem em seguida, com 69,6%, e depois São Paulo (61,2%) e Minas (55,9%). As PMs do Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo, na Região Sudeste, têm 53,5% dos casos de extorsão.
 
Julita Lemgruber, ex-diretora do Departamento do Sistema Penitenciário, observou que o Rio tem história antiga e grave com a corrupção, mas estranhou a posição de Alagoas (12º lugar no ranking): "Em alguns estados do Nordeste, como Alagoas, os níveis de corrupção na PM são muito altos".