PM do Rio é a mais corrupta do país, diz pesquisa
Fonte: Jornal O Globo
Considerada a mais corrupta do país, com 30,2% dos casos de extorsão, segundo pesquisa exclusiva revelada ontem pelo jornal Extra,
a Polícia Militar do Rio enfrenta o problema com uma alta taxa de
expulsão de servidores, o que, nos últimos anos, tem contribuído para o
crescimento de uma nova face da criminalidade: as milícias. A análise
foi feita ontem pela secretária nacional de Segurança Pública, Regina
Miki, ao comentar o resultado da Pesquisa Nacional de Vitimização do
Instituto Data Folha, encomendada pelo Ministério da Justiça e pelo
Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento.
"O número de policiais expulsos me preocupa porque as milícias do Rio
cresceram muito por causa dessas expulsões de PMs. Tenho medo de ser mal
interpretada. Não acho que a gente deva ficar com o policial de
qualquer jeito. Não é isso. Toda polícia que deu certo no mundo passou
por reestruturação. A corporação do Rio tem que ser reestruturada",
defende a secretária.
Segundo o levantamento, o Rio tem o maior número de vítimas desse tipo
de crime do que todos os estados da Região Sudeste somados, inclusive
São Paulo, que tem a maior população e a maior corporação militar do
país. A pesquisa ouviu 78 mil pessoas em 26 estados. Depois do Rio, São
Paulo desponta com 18,2% dos casos de entrevistados que relataram ter
sofrido extorsão e pagado propina a policiais.
Cabral reage à crítica
A crítica feita pela titular da Senasp se refere aos milhares de
servidores expulsos das fileiras das polícias Militar e Civil do estado.
De 2008 até o ano passado, 1.411 PMs e policiais civis foram expulsos
no Rio. Ela chama a atenção para a ausência de uma política de
recuperação do policial antes de expulsá-lo e de um acompanhamento
social após a expulsão, o que poderia evitar que ele se tornasse, por
exemplo, um miliciano:
"O cara não sabe fazer nada na vida a não ser atuar na polícia. O
estado investe muito alto na formação desse policial e depois o
expulsa".
O governador Sérgio Cabral rebateu as críticas de Regina Miki:
"Jamais houve um governo que combatesse a má conduta dentro das
polícias como o nosso, com a punição e expulsão de centenas de
policiais. Entretanto, não conheço no Brasil polícia mais corajosa para
entrar na luta contra o crime organizado como a nossa".
O deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Alerj, também criticou a política de expulsões: "Investe-se
pouco na formação, na valorização e no controle. Quem investe pouco
nisso acaba tendo que expulsar muito. O policial expulso não vai ser
carteiro ou professor".
O titular da Corregedoria Geral Unificada, Giuseppe Vitagliano, afirma
que a reforma ou a demissão de oficiais é mais lenta porque só pode ser
feita por meio do Tribunal de Justiça. Às vezes, demora porque o número
de processos é alarmante. "A corrupção é incompatível com o exercício
da atividade. O policial deve ser honesto por princípio".
Dos entrevistados pela pesquisa, 61,3% acreditam que os policiais
militares fazem vista grossa para a corrupção de seus colegas. O maior
índice de desconfiança foi registrado em Roraima (74,7%). O Estado do
Rio vem em seguida, com 69,6%, e depois São Paulo (61,2%) e Minas
(55,9%). As PMs do Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo, na Região
Sudeste, têm 53,5% dos casos de extorsão.
Julita Lemgruber, ex-diretora do Departamento do Sistema
Penitenciário, observou que o Rio tem história antiga e grave com a
corrupção, mas estranhou a posição de Alagoas (12º lugar no ranking):
"Em alguns estados do Nordeste, como Alagoas, os níveis de corrupção na
PM são muito altos".