A Polícia Civil da Bahia investigará a partir desta
terça-feira denúncia feita ao Ministério Público por uma estudante de
agronomia de 22 anos que diz ter sido obrigada a chupar testículos e
pênis de boi durante trote na Universidade Estadual do Sudoeste (Uesb),
campus de Vitória da Conquista, sudoeste do Estado.
O caso ocorreu na sexta-feira passada. De acordo com depoimento
da estudante ao Ministério Público, ela estava na segunda semana de aula
no 1º semestre quando resolveu participar do trote por pressão dos
colegas veteranos, “porque, se não participasse, seria pior”. Ela disse
que participaria, mas avisou que era “alérgica a tudo”.
Durante a brincadeira, a estudante – que prefere não ter sua
identidade revelada – e outros colegas calouros foram colocados para
andar de “elefantinho” (de mãos dadas uns com os outros e com as mãos
passando por debaixo das pernas) e depois tiveram de chupar testículos e
pênis de boi. Aplicavam o trote alunos do 3º e 4º semestres de
agronomia.
A estudante desconfia que o pênis do boi estivesse melado com
sêmen humano, pois estava com gosto salgado. E teriam dito a ela que
aquele “pênis” ainda “nem é o de verdade”. Para finalizar a brincadeira,
segundo ela, os veteranos botaram um líquido em um copo que seria
mistura de “mata bicheira” – produto usado em bovinos – e urina de
animal e deram para eles bochecharem.
Após o bochecho, a estudante começou a ter reações alérgicas e
chegou a desmaiar, tendo sido levada para a enfermaria da universidade,
onde teria recebido apenas café e biscoito, que ela nem conseguiu
engolir porque começou a sair sangue da sua língua. Mesmo nessa
situação, ela ainda saiu da universidade e foi para Brumado, sua cidade
natal.
A estudante está sendo acompanhada pela Comissão de Direitos da
Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil. Para a advogada Michelly Leão,
pode ter ocorrido no caso “lesão corporal, estupro por ato diverso de
conjunção carnal e tentativa de homicídio doloso, por dolo eventual,
porque sabiam que ela tinha alergia e a colocaram para bochechar com
mata bicheira”.
Ainda segundo a advogada, a Uesb pode responder por “omissão de
socorro, pois eles não souberam lidar com a situação”. Procurada, a
assessoria de comunicação da universidade informou que não poderia se
pronunciar porque o reitor está em viagem.
A universidade, porém, reconheceu que o trote ocorreu e que o
caso está sendo analisado internamente. A enfermeira Maria da Paixão,
que atendeu a estudante, e o presidente do Centro Acadêmico de
Agronomia, Ednaldo Dantas, do 7º semestre do curso, disseram que não iam
dar declarações.
A delegada responsável pelo caso, Tânia Silveira Santana Santos,
disse que aguarda apenas a chegada do ofício do Ministério Público para
abrir as investigações. O documento não foi enviado na segunda por causa
da paralisação de 24h dos policiais civis da Bahia.
A promotora Carla Medeiros, que ouviu o depoimento da estudante,
qualificou o trote como “muito violento, podendo configurar lesão
corporal”. Estudantes do curso também não quiseram falar sobre o
assunto. Depois do caso, o clima entre eles é de muita apreensão.
Desde setembro de 2008 os trotes são proibidos na Uesb.
Seguranças da universidade disseram, porém, que foi dado ordem a eles
para que não se envolvam nas brincadeiras dos alunos.
FONTE: TERRA